segunda-feira, 10 de setembro de 2012

TODO AMARELO MORRE DO VERMELHO AO VERDE - UM POUCO DE LITERATURA

Guillaume Apolinaire


Guillaume Apollinaire (1880-1918) foi um desses espíritos loucos que nascem numa linhagem torta, vivi uma vida mais torta ainda, mas que consegue superar tudo isso e transformar a sua indignação em arte. Arte de primeira linha, vanguardista, transformadora. Após várias peripécias, inclusive viajar pela Europa fingindo-se príncipe, Wilhelm Albert Włodzimierz Apolinary de Wąż-Kostrowicki foi parar em París, onde mais tarde mudou o nome para Guillaume Apollinaire, adquiriu a cidadania francesa na guerra de 1914 e torna-se marechal das tropas francesas. 

Foi um grande crítico da literatura de seu tempo. Ficou bastante conhecido por escrever poemas sem usar nenhuma pontuação. Criou o termo surrealismo, escreveu vários manifestos, adotou e divulgou o cubismo. 

Janelas abertas simultaneamente - do pintor cubista Robert Delaunay 
Um de seus poemas mais conhecidos é “As janelas” poema esse com interessante história. Robert Delaunay, pintor cubista amigo de Apollinaire, estava para fazer uma exposição de suas telas cubistas, Apolinaire foi convidado a escrever algo no catálogo da exposição. Após detida análise da tela “Janelas abertas simultaneamente”, o poeta escreveu “As janelas”. 

Observa-se que a obra escrita é quase uma transcrição daquilo que se observa na tela pintada. A imagem fragmentada da realidade, as formas geométricas são as principais características desse movimento de vanguarda que ficou conhecido como Cubismo.


JANELAS

Todo o amarelo morre do vermelho ao verde

Quando as araras cantam nas florestas nativas

Miúdos de pir-rís

É preciso escrever um poema sobre o pássaro de uma asa só

Vamos enviar por telefone

Traumatismo gigante

Faz os olhos correrem

Repare naquela moça bonita que passa entre as mulheres de Turim

O pobre rapaz assoa o nariz na sua gravata branca

Você vai erguer a cortina

E eis que a janela se abre

Aranhas quando minhas mãos teciam a luz

Beleza palidez insondáveis violetas

Em vão tentaremos um cochilo

Começaremos à meia-noite

Onde se tem o tempo tem a liberdade

Mexilhões Bacalhau múltiplos Sóis o Ouriço do poente

Um par de velhas botas amarelas na janela

Torres

Torres são ruas

Poços

Poços são praças

Poços

Árvores ocas abrigando mestiços vagabundos

Mulatos cantam cantigas que matam

Mulatos barulhentos

E o ganso trompeteia seu ruá-ruá rumo ao norte

Onde caçadores de guaxinim

Raspam as peles da caça

Vancouver

Diamante brilhante

Onde o trem branco de neve e seus fogos noturnos fogem do inverno

Ô Paris

Todo o amarelo morre do vermelho ao verde

Paris Vancouver Hyères Maintenon New-York Antilhas

A janela se abre como laranja

Bonito fruto da luz


GUILLAUME APOLLINAIRE

Tradução: Rodrigo Garcia Lopes

1- Pihi, pássaro fantástico da lenda chinesa que teria um olho e uma asa, o que o obrigava a voar sempre em pares: o macho à direita, a fêmea à esquerda. Em vários poemas Apollinare se refere à fauna e seres imaginários.
2_ Referência a dois jornais de Paris da época de Apollinaire, O Tempo e A Liberdade.
(Copiei o poema do bolg: http://estudiorealidade.blogspot.com.br)

2 comentários:

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