Guillaume Apolinaire |
Guillaume Apollinaire (1880-1918) foi um desses espíritos loucos que nascem numa linhagem torta, vivi uma vida mais torta ainda, mas que consegue superar tudo isso e transformar a sua indignação em arte. Arte de primeira linha, vanguardista, transformadora. Após várias peripécias, inclusive viajar pela Europa fingindo-se príncipe, Wilhelm Albert Włodzimierz Apolinary de Wąż-Kostrowicki foi parar em París, onde mais tarde mudou o nome para Guillaume Apollinaire, adquiriu a cidadania francesa na guerra de 1914 e torna-se marechal das tropas francesas.
Foi um grande crítico da literatura de seu tempo. Ficou bastante conhecido por escrever poemas sem usar nenhuma pontuação. Criou o termo surrealismo, escreveu vários manifestos, adotou e divulgou o cubismo.
Janelas abertas simultaneamente - do pintor cubista Robert Delaunay |
Um de seus poemas mais conhecidos é “As janelas” poema esse com interessante história. Robert Delaunay, pintor cubista amigo de Apollinaire, estava para fazer uma exposição de suas telas cubistas, Apolinaire foi convidado a escrever algo no catálogo da exposição. Após detida análise da tela “Janelas abertas simultaneamente”, o poeta escreveu “As janelas”.
Observa-se que a obra escrita é quase uma transcrição daquilo que se observa na tela pintada. A imagem fragmentada da realidade, as formas geométricas são as principais características desse movimento de vanguarda que ficou conhecido como Cubismo.
JANELAS
Todo o amarelo morre do vermelho ao verde
Quando as araras cantam nas florestas nativas
Miúdos de pir-rís
É preciso escrever um poema sobre o pássaro de uma asa só
Vamos enviar por telefone
Traumatismo gigante
Faz os olhos correrem
Repare naquela moça bonita que passa entre as mulheres de Turim
O pobre rapaz assoa o nariz na sua gravata branca
Você vai erguer a cortina
E eis que a janela se abre
Aranhas quando minhas mãos teciam a luz
Beleza palidez insondáveis violetas
Em vão tentaremos um cochilo
Começaremos à meia-noite
Onde se tem o tempo tem a liberdade
Mexilhões Bacalhau múltiplos Sóis o Ouriço do poente
Um par de velhas botas amarelas na janela
Torres
Torres são ruas
Poços
Poços são praças
Poços
Árvores ocas abrigando mestiços vagabundos
Mulatos cantam cantigas que matam
Mulatos barulhentos
E o ganso trompeteia seu ruá-ruá rumo ao norte
Onde caçadores de guaxinim
Raspam as peles da caça
Vancouver
Diamante brilhante
Onde o trem branco de neve e seus fogos noturnos fogem do inverno
Ô Paris
Todo o amarelo morre do vermelho ao verde
Paris Vancouver Hyères Maintenon New-York Antilhas
A janela se abre como laranja
Bonito fruto da luz
GUILLAUME APOLLINAIRE
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes
1- Pihi, pássaro fantástico da lenda chinesa que teria um olho e uma asa, o que o obrigava a voar sempre em pares: o macho à direita, a fêmea à esquerda. Em vários poemas Apollinare se refere à fauna e seres imaginários.
2_ Referência a dois jornais de Paris da época de Apollinaire, O Tempo e A Liberdade.
(Copiei o poema do bolg: http://estudiorealidade.blogspot.com.br)
o que ficou decidido
ResponderExcluirsobre a greve.
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