sexta-feira, 26 de outubro de 2012

“Para ser autenticamente brasileiro é preciso ser paulista! (Millet) - A ACADEMIA VERDEAMARELO E A REVNOVAÇÃO ANTA (1926)



MENOTTI DEL PICCHIA
Ao analisar esse grupo literário Verdeamarelo, que teve como lideranças Menotti Del Picchia, Cassiano Ricardo e Plínio Salgado, a professora Mônica Pereira Veloso, em interessante artigo, levanta um fato importante: estávamos no pós Primeira Guerra Mundial, a Europa representava um passado que não deu certo, a América era um mundo novo a ser valorizado. Segundo ela “Recorrendo às metáforas organicistas, nossos intelectuais exprimem a ideia da velha e da nova civilização: o Brasil é o organismo sadio e jovem, enquanto a Europa é a nação decadente que deve fatalmente ceder lugar à América triunfante”. Nesse espírito é que o grupo liderado por Menotti vai se afastar dos lideres da Semana de Arte Moderna e trilhar por um caminho de declarada oposição a eles.
Com a derrocada do Velho Mundo “Alguns intelectuais interpretam o contexto como uma confirmação da análise de Spengler que previa o fim da cultura europeia e a aurora do novo mundo.” No entanto, a situação do Brasil não era nada confortável, havia por aqui o problema dos grupos fechados de imigrantes, um imenso território desabitado, a concentração demográfica apenas no litoral, a população do sertão e do interior da Amazônia viviam em completo isolamento de tudo o que acontecia nos centros cosmopolitas. Isso por vezes vai desembocar em conflitos armados como houvera acontecido em canudos. Esse problema poderia levar a outro: a intervenção internacional movida pela cobiça ao território brasileiro.
Mônica cita oportunamente o discurso de Afonso Arinos que alertava “se o Brasil tem um território, não tem ainda o que se pode chamar de nação”. A palavra de ordem passa a ser essa: construir a nação.
Os fatores negativos atribuídos à nossa civilização não o são, na realidade. Se aparecem assim é porque as elites brasileiras se pensaram e pensaram o seu país de acordo com a mentalidade européia”.
Era preciso fortalecer o espírito patriótico do povo, necessário seria então ter um grupo étnico que pudesse ser o representante do povo brasileiro “Encontrar um tipo étnico específico capaz de representar a nacionalidade torna-se o grande desafio enfrentado pela elite intelectual.” O Brasil é um país formado pela mistura de várias etnias eis ai um grande problema a ser resolvido.
Os intelectuais brasileiros se vem numa posição de superioridade com relação aos demais compatriotas e “Tomados deste sentimento de orgulho e resignação, os intelectuais brasileiros se auto-elegem executores de uma missão: encontrar a identidade nacional, rompendo com um passado de dependência cultural”. Nesse espírito surgem os grupos da poesia Verdeamarelo, de Menotti Del Picchia e da poesia Pau-Brasil, de Oswald de Andrade.
Todavia, apesar desse ponto que os filiam a um objetivo comum, Péricles Eugênio da Silva Ramos, no capítulo 49 da obra dirigida por Afrânio Coutinho,(COUTINHO – 1997) afirma que o grupo do verdeamarelismo se opõe ao Pau-Brasil “naquilo que se prendia às raízes francesas – contra a importação dos ismos em geral”. Já a professora Mônica, em um artigo publicado com o título “BRASILEIRISMO VERDE-AMARELO” aponta o grupo Verdeamarelo como um grupo representante da direita paulista e que as ideias desse grupo vão servir de base à política integralista. Ela aponta também três coisas que servem de base para o ideário desse grupo: “nacionalismo-território-heroísmo”.
Outro trabalho interessantíssimo sobre esse tema é a dissertação de mestrado da historiadora Helaine Nolasco Queiroz. Segundo ela:
“O Verdeamarelo considerava a arte um dos locais onde mais facilmente a dependência cultural brasileira se evidenciava. Desde o período colonial até o século XIX, os moldes estéticos estrangeiros, especialmente os europeus, foram utilizados no Brasil, com destaque nas artes plásticas e na literatura, causando uma dependência da matriz europeia digna de censura”.

Nesse período a obra literária passa a ser analisada pela forma como aborda o território e a sociedade brasileira. Quanto maiores forem as informações trazidas pela obra sobre esses temas, maior será o seu valor literário. O grande problema do grupo Verdeamarelo é que seus integrantes supervalorizavam São Paulo em detrimento dos demais centros brasileiros, principalmente o Rio de Janeiro. Segundo eles, o paulista é que representa o verdadeiro brasileiro,com sua inclinação natural ao trabalho, iniciada pelos bandeirantes é que foi possível expandir o território nacional, enquanto que o Rio de Janeiro ficou largado ao ócio, contemplando o mar com suas belas praias.
A visão ufanista de São Paulo traz um aspecto interessante: a desqualificação empreendida em relação ao Rio de Janeiro. A promiscuidade de suas praias, o aspecto anárquico de sua economia, a futilidade dos hábitos cariocas e a violência e amoralidade do carnaval são objeto de inúmeras crônicas e charges publicadas no Correio Paulistano”.(Mônica)
 Houve uma bifurcação de entendimento sobre a brasilidade entre o grupo liderado por Menotti e os Modernistas. Sobre isso Mônica tece o seguinte comentário:
O que é o Brasil? Um país fragmentado pelas diferenças ou um conjunto homogêneo? E o regionalismo? Seria um sinal do nosso atraso, um obstáculo à atualização da cultura brasileira ou, pelo contrário, o depositário da nossa verdadeira identidade? São essas as questões que aquecem o debate intelectual modernista, criando cisões, confusões e alianças. Se, de certa forma, a idéia do Brasil como conjunto cultural que se impõe pela sua originalidade é unânime, a constatação do fato não dilui as divergências.”

De um lado estava Mario de Andrade com a visão de que o brasileiro é um “Macunaíma- herói sem nenhum escrúpulo”. Mostrando através de sua teoria de “desgeografização” do Brasil, uma forma de entender o país que não se baseasse apenas no fator espacial, como queria os verdeamarelos, no entanto levando em conta a questão temporal e histórica. Do outro, formou-se o grupo Verdeamarelo que supervaloriza a questão regional, apresentando como modelo a ser seguido a região do Estado de São Paulo.
Para os verde-amarelos, São Paulo se apresenta como o cerne da nacionalidade brasileira, justamente pela sua configuração geográfica. A originalidade da geografia paulista investiu a região de um destino especial: ser o guia da nacionalidade brasileira. O argumento se desenvolve da seguinte forma: diferentemente das demais regiões do país, em São Paulo os rios correm em direção ao interior. Este fato teria obrigado os paulistas a caminharem em direção ao sertão, abandonando o litoral. Por uma questão de fatalidade do meio ambiente, eles se tornaram, então, bandeirantes e desbravadores. Ao se internarem nos sertões, os bandeirantes teriam abdicado dos falsos valores do litoral-alienígena para encontrar os filões do Brasil-autêntico, que é o rural”.

E mais:

Assim, a valorização do regionalismo coloca-se como imprescindível porque possibilita "delimitar fronteiras, ambiente e língua local". E mais: só o regionalismo é capaz de dar sentido real no tempo e no espaço, já que o ritmo da terra é local. Assim, o brasileiro não deve acompanhar o ritmo da vida universal,pois este é abstrato, genérico e exterior. A alma nacional tem um ritmo próprio que deve ser respeitado custe o que custar. É este senso extremado do localismo que marca a doutrina verde-amarela, diferenciando-a do ideário modernista.”

Os Verdeamarelos veem no período colonial do século XVI o momento áureo da nossa história, pois foi quando houve a integração pacífica do elemento colonizado com o colonizador. Esse momento passa a ser visto por eles como atemporal, presente, que deve ser revivido, menosprezando a evolução temporal e histórica. Essas ideias estão presentes no manifesto Nhengaçu.
Se Mario de Andrade criou Macunaíma, o anti-heroi que representa o povo brasileiro, malandro, preguiçoso sem nenhum escrúpulos, o verdeamarelista Cassiano Ricardo criou Martim Cererê, que encarna o clássico bandeirante paulista, bravo, honrado e disposto ao trabalho.
Para Mônica:
O personagem Macunaíma não corporifica apenas qualidades consideradas positivas, mas inclui todas as fraquezas e vacilos do ser nacional que, dilacerado entre duas culturas, busca a sua estratégia de sobrevivência. Este herói, ou este anti-herói, é o próprio Brasil: ambíguo, conflitante, em constante procura de identidade.”

Com relação ao Martim Cererê, diz: “ [..] é aquele que realiza a "epopéia dos trópicos". Ele é pleno de atributos por sua capacidade de enfrentar dificuldades, seu espírito aguerrido, seu altruísmo ímpar”. Esse era o paulista na sua essência, segundo os verdeamarelos.
Assim, o grupo Formado por Menotti Del Picchia, Cassiano Ricardo, Plínio Salgado e Raul Bopp, que recebeu o nome Academia Verdeamarelo, foi uma tentativa quase fascista de tentar impor a cultura paulista como a única representativa da cultura brasileira. Esse foi um grupo, acima de tudo, representante da elite paulista. Esse grupo foi criado por Menotti em 25 de julho de 1926, dois anos depois da realização da Semana de Arte Moderna, e durou até o final de 1927, quando seus integrantes declaram encerrada a missão do grupo. Os mesmos integrantes desse grupo foram quem formaram o Grupo da Anta, que logo depois e dissolvido, indo cada um tomar o seu rumo na literatura e na política brasileira na década de 1930. Essa será a segunda fase do modernismo, 1930 a 1945, foi a chamada “fase de extensão” ou pós-modernismo”. 
(Aurismar Lopes Queiroz, pós-graduado em Estudos Linguisticos e Analises Literária) 

5 comentários:

  1. Essa postagem é muito interessante,fala no inicio sobre os europeus e podemos concordar em uma coisa : quase todo o mundo se inspirava neles e com a perda na guerra muitos inclusive aqui no brasil ficaram confusos.
    Ela fala mutas verdades,como citando o personagem Macunaima. Se olharmos na história podemos ver a fraqueza dos homens.
    Aluna: Maiany Sousa De Jesus
    Série:3 MR02
    Turno: manhã
    Escola:Liberdade

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  2. Engraçado como eles tinham essa prepotencia de usar clichês pra definir esse ou aquele lugar: Paulistanos são os verdadeiros brasileiros porque são trabalhadores e desbravadores e os cariocas são apenas os preguiçosos. Isso era um pensamento muito pobre, ja que deve-se ter em mente que o Brasil não tem um tipo apenas de cultura, mais sim uma grande mistura de varias culturas que formam o povo brasileiro. Talvez o Brasil seja o pais mais multicultural do mundo. Um pensamento tão limitado a respeito de regionalidade, no que diz respeito à situação de São Paulo, inclusive exclui o resto do País, que na verdade era muito mais brasileiro, pois sofria menos influencia europeia em sua cultura. Esse tipo de pensamento so podia mesmo vir da elite, que imagino serem tanto intelectuais quanto burgueses.

    Adina dos Santos Sousa
    3º MR02

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  3. VERDEAMARELO- esse grupo literário foi muito importante para a história do brasil, ele levanta fatos sobre a europa que representa um passado para esse país.
    Eles tinham uma ideia de deixar a europa para o passado e seguir seu proprio rumo e isso contribuil muito;
    Foi um exemplo deixado para nos, que lutaram pela inovação desse país que podemos chamar de BRAZIL.
    Aluno:Mario Miguel Santos Lins
    Série:3MR 02
    Turno:manhã
    Escola: Liberdade

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  4. Fernando - Maritubanovembro 20, 2012

    Amigo, parabéns pela excelente postagem. De fato, sem falar que depois dessa afobação toda eles voltaram aos moldes clássicos. Foram apenas arroubos da juventude. Parabéns, muito bom o blog.

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  5. Aurismar, o seu blog tem se tornado referência par Marabá e região. Agora além da análise política você tem trazido estudos literários, muito bom.

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