segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

VALE A PENA LER - CÉLIO COSTA AVALIA


Infraestrutura e posse de terra; Pará espera despertar governo federal para problemas do estado

12/12/2011 | 17h34min

O plebiscito de domingo disse não à divisão do Pará, mas a realização serviu para alertar o Brasil sobre as desigualdades não só do estado, mas de toda a região Norte. A avaliação é do economista Célio Costa, autor do estudo que embasou o pleito de emancipação do Leste do Pará, onde se situam os municípios das regiões do Araguaia, Tocantins e Carajás. Segundo ele, o Estado brasileiro terá, a partir de agora, de olhar com mais atenção para os projetos de infraestrutura da região e efetivar os investimentos de desenvolvimento, já que muitos deles se arrastam há mais de 40 anos, como a Transamazônica, a rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163) e a hidrovia Araguaia-Tocantins.
- O grito de independência foi dado. Ficou claro que tanto o Estado brasileiro quanto o governo do Pará deixam as duas áreas abandonadas. Só para citar dois exemplos: o governo federal gasta R$ 12 bilhões com a estrutura da máquina federal apenas em São Paulo e apenas R$ 7 bilhões em todos os estados do Norte, justamente na região Amazônia, que é estratégica para o país - afirmou Costa.
Segundo o economista, o mesmo ocorre com o número de funcionários públicos federais. Enquanto a região Norte tem 60 mil funcionários federais em todos os estados, que ocupam 45% do território brasileiro, o Rio de Janeiro tem cerca de 150 mil. Outro dado desta ausência do Estado é o número de universidades federais. Minas Gerais, por exemplo, tem 11 universidades federais, enquanto a região Norte tem oito.
- O Brasil tomou conhecimento da gravidade do problema do Pará. O orçamento do estado é pequeno para um território tão grande, com população tão dispersa, e, além disso, as regiões de Tapajós e Carajás receberam apenas R$ 1,5 bilhão de investimentos, contra R$ 9,5 bilhões da área da Região Metropolitana de Belém e do Pará remanescente - disse Costa, referindo-se como remanescente os 17% do território que ficariam com o Novo Pará, caso a população não tivesse rejeitado a divisão.
Para ele, onde o estado é ausente, a lei é aplicada de forma precária, agravando a situação agrária e dificultando inclusive o controle do desmatamento da Amazônia.
Neste domingo, o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB) também cobrou compreensão do governo federal em relação ao Pará.
- Somos grandes produtores de energia, temos uma extensa área de floresta, temos minério, mas somos o 26º menor orçamento per capita do Brasil, que não passa de R$ 140 a R$ 150 por habitante - afirmou o governador, que disse contar com a solidariedade da República para discutir os projetos em toda a Amazônia.
Jatene espera obter um pacto dentro do Pará e com o governo federal para discutir a criação de um fundo de compensação de impactos sociais e ambientais gerados por grandes projetos calcados em recursos naturais, que seria gerido pelo BNDES e com base no lucro dos empreendimentos.
O Pará, lembrou Jatene, tem ainda outro grande problema, que é o dos assentamentos. É o estado com maior número de assentados do país e essa população não tem qualquer relação com a Prefeitura ou com a sociedade local. Todos os projetos, de desenvolvimento e ajuda social, são concentrados em órgãos do governo federal.
Nos últimos 10 anos, enquanto o Brasil cresceu a taxa de 1,17% ao ano, o Pará cresceu 2,04%. De 2000 a 2010, a população do estado aumentou 22,4%. São 955 projetos de assentamentos no estado, que abrigam 200 mil famílias - cerca de 1 milhão de pessoas. São 497 assentamentos na região de Marabá e 220 na de Santarém.
- O Brasil tem de transformar grandes projetos de interesse nacional em mecanismos de financiar o desenvolvimento regional. A população tem que se perceber protagonista, não espoliada - afirmou o governador.
O deputado Lira Maia (DEM-PA), integrante da Frente Pró-Tapajós, disse neste domingo que mesmo tendo sido curta a campanha de esclarecimento, ela serviu para que a população reflita sobre a situação. Segundo ele, a região do Tapajós, que corresponde a 58% da área do estado, recebeu apenas 5% dos recursos e essa realidade terá de mudar.
- O estado do Pará não será mais o mesmo. O plebiscito serviu para chamar atenção para uma situação real. A população descobriu números que não eram divulgados - afirmou Maia.

O Globo 

Um comentário:

  1. Meu caro colega... quem está interessado em resolver os problemas??? Antes dessa votação expressiva no Pará as pessoas (políticos e poderosos) já sabiam (e faz tempo) das condições do Norte e de tantas outras situações tratadas como periferias...

    Sem uma revolução (e o fato de o SIM ter vigorado me preocupa) de mentes não há mudança. Enquanto as pessoas pensarem que "não chegando até mim está bom", é difícil pensar em mudança.

    E, confesso, fiquei decepcionada com a conclusão do texto: "O estado do Pará não será mais o mesmo. O plebiscito serviu para chamar atenção para uma situação real. A população descobriu números que não eram divulgados".

    A população é que de fato sabe os números. É ela que enfrenta a fila para ser atendida por um médico e vê os seus morrendo sem atendimento. É ela que sabe que o salário que recebe não é suficiente para as compras mais básicas. É ela que sente no bolso e na saúde a realidade dos números D I A R I A M E N T E. Mas ela é passiva quando vota para o mesmo candidato anos a fio apenas pelo fato de ter lucrado uma panela de pressão!
    É isso que faz andar a política no Brasil, o conhecimento dos números. É por isso que dia a dia a gente vê e lê os números que elegem gente com as que estão no poder no Maranhão, na Bahia,em Minas Gerais e em quase todos os estados do Brasil.

    Essa conclusão --- "O estado do Pará não será mais o mesmo. O plebiscito serviu para chamar atenção para uma situação real. A população descobriu números que não eram divulgados" --- não conclui a realidade atual, nem a que virá.

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